E a requintada conspiração da Área 51?

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E a requintada conspiração da Área 51? Aquela que diz que o Pentágono mantém uma nave extraterrestre que foi capturada? E que ainda afirma que os extraterrestres voam pelo espaço aéreo restrito da Área 51? – São fatos que qualquer um pode facilmente desbancar. O formato do OXCART era a de um largo disco achatado com uma fuselagem projetada para levar quantidades enormes de combustíveis. Os pilotos comerciais que viajavam ao entardecer pelos céus de Nevada observariam e veriam o barulho e o fundo do OXCART voando a mais de 2.000 milhas por hora. O corpo de titânio da aeronave, se movia tão rápido quanto a uma bala, e refletiria os raios do sol, e isso poderia fazer qualquer um pensar que viu um OVNI, de certo modo”.

O artigo pode soar um tanto inacreditável, ainda mais caso você acredite em elaboradas conspirações governamentais, com muita razão. Por que acreditar nas histórias desses militares reformados de muita idade falando sobre como não há nada de naves alienígenas na Área 51 e que seria tudo um monte de enganos, quando isto é exatamente o que se esperaria “deles”?

Bem, muitos entusiastas da ufologia adoram dar crédito aos depoimentos de militares quando eles apóiam suas crenças, por mais inusitadas que sejam. Deveriam dar igual crédito a estas novas histórias ainda que desmintam seus mitos. E deveriam de fato dar mais crédito a estas novas histórias, justamente porque não são novas.

E principalmente, podemos tomá-las a sério porque são confirmadas por muita informação independente. O programa “OXCART” referido repetidamente no artigo é e permanece sendo o que levou à criação da aeronave mais rápida até hoje, com uma propulsão e design revolucionários – tanto mais há quase 50 anos, quando foi criada. Documentos e uma série de registros a seu respeito vêm sendo conhecidos e liberados, de diversas fontes, e todos confirmam que o programa foi desenvolvido na Área 51. As aeronaves sim lembram discos voadores.

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E então, a própria CIA já publicou há mais de dez anos um relatório reconhecendo o papel que seus aviões secretos tiveram em relatos OVNI. Ver CIA’s Role in the Study of UFOs, 1947-90. É praticamente a história contada pelos militares.

Talvez o detalhe mais interessante do artigo, que possa passar despercebido, é outro fato ignorado por entusiastas e ufólogos. É o trecho:

“Hoje, as conclusões do Projeto BLUE BOOK estão guardadas em alguns metros cúbicos de arquivos no prédio onde ficam os arquivos nacionais — São 74.000 páginas de relatórios”.

Os EUA foram o primeiro governo mundial a reconhecer e pesquisar oficialmente OVNIs. De fato, foi o chefe do projeto Blue Book, Edward Ruppelt, que cunhou o termo OVNI (“UFO”). Ufólogos devem a um militar o termo definidor de sua pesquisa, embora raramente se lembrem disto.

Durante décadas a Força Aérea Americana teve recursos dedicados publicamente para coletar e investigar relatos sobre discos voadores. Muitos sabem disto, mas quase todos parecem se esquecer de que os documentos a respeito foram em grande parte liberados e estão há vários anos disponíveis para consulta pública. Recentemente, uma parte deles foi disponibilizada na rede por ufólogos e pode ser conferida no Project Blue Book Archive. Os EUA também foram os primeiros a liberar documentação sobre o assunto, já há décadas, e são até hoje o país que mais liberou informação a respeito. O famigerado governo americano é o país que mais liberou informação OVNI no planeta.

De fato, é tanta informação que os próprios ufólogos, civis, informais, até hoje não vasculharam detidamente toda a documentação disponível para análise. Isso mesmo: enquanto muitos clamam, com razão, por acesso ao material produzido por governos pelo mundo a respeito do fenômeno OVNI, há milhares e milhares de páginas já liberadas que nunca foram pesquisadas detidamente por ufólogos. Enquanto, repetimos, o direito de acesso a todo material produzido com recursos públicos deva ser exercido em democracias, muitos ufólogos acabam omitindo da população que simplesmente não possuem estrutura – ou pior, por vezes disposição – para analisar mesmo o material que já está disponível. No Brasil, por exemplo, poucos sequer leram as centenas de páginas disponíveis sobre a Operação Prato, por exemplo. Ufólogos, assim como governos, têm seus interesses e (in)conveniências.

É essencial avaliar criticamente as fontes de informação em uma área em que tantos interesses estão em jogo. Isso inclui o artigo que comentamos aqui, que sugere que o próprio projeto Blue Book foi criado para lidar com uma avalanche de avistamentos causados pela atividade do programa OXCART. Isto é claramente uma meia-verdade, ou mesmo uma inverdade: a avalanche de relatos de discos voadores nos EUA teve início em 1947, anos antes que o programa fosse sequer criado. E ele não envolvia viagens no tempo.

Seguramente o fenômeno OVNI não surgiu nem se desenvolveu apenas como fruto das atividades secretas da indústria aeronáutica norte-americana, embora elas sim tenham desempenhado um papel no processo, o que podemos inferir não apenas pelas admissões da própria CIA, como a partir de evidência independente descoberta inclusive por ufólogos. Nem ufólogos nem o governo americano apresentam todas as informações a respeito da forma mais… honesta.

Afinal, em quem confiar? Arquivo-X já tinha a resposta: “Não confie em ninguém”. E podemos dizer, caros leitores, para não confiarem mesmo em nós. Se podemos estar seguros de algo é que devemos sempre cultivar a dúvida. Onde há dúvida, há liberdade.

Dito tudo isso, o pobre piloto da Área 51 que recebeu o soro da verdade e foi deixado em casa sem nenhuma explicação apenas para que sua esposa pensasse que ele estava completamente bêbado é uma história muito boa.
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